SANTOS, FRUTO DO NOSSO TEMPO


Há muitas coisas fora do comum em nós cristãos. Por exemplo, escolhemos a data da morte de um santo, como dia para fazer-lhe festa, para o celebrar com alegria. E assim acontece que também o dia de todos os Santos é dia festivo que transborda para os Finados e, embora com um teor um pouco mais saudoso.

Ainda bem que os cristãos continuam a ser originais e procuram viver com «alegria evangélica» a memória dos Santos e a Comemoração dos Fieis Defuntos, falando de vida e não de morte. Uma vida que depois do trajeto neste mundo, como «peregrinos e forasteiros», flui para a eternidade de Deus.

Comunhão com os Santos significa ter a certeza que eles iluminam a nossa vida e intercedem por nós. Santa Teresa do Menino Jesus dizia: «Viverei no céu fazendo o bem na terra». Contudo, o seu caminho de santidade começou aqui na terra, deixando um rasto luminoso, aquele amor que desejava ser no coração da Igreja.

Eis então que a santidade não está relegada no céu, mas começa aqui na terra, ao pé de casa, das portas do prédio e do bairro, onde – como diz o Papa Francisco – é possível ver a santidade dos «pais que criam os seus filhos com tanto amor», dos «homens e mulheres que trabalham a fim de trazer o pão para casa», e também dos «doentes» e das «consagradas idosas que continuam a sorrir» (GE 7). Estes, ao dizer do Papa, é «classe media da santidade», somos nós, à espera de nos tornar um dia os «vip’s», lá no céu.

Quando era seminarista, os meus formadores, tiveram o cuidado que eu e os meus colegas de seminário, procurássemos ler pelo menos uma biografia de um Santo, em cada ano. Foi assim, que, na minha juventude, conheci a vida de vários santos.

Foi assim que descobri que na vida da Igreja temos uma grande variedade de santos e santas: dos contemplativos nos mosteiros, até aos da Caridade e da promoção social em tempo de revolução industrial nas periferias das grandes cidades. Homens e mulheres que, enquanto os pais trabalhavam nas fábricas, souberam dar assistência e instrução aos filhos destinados à rua e à delinquência. Assim, na história da Igreja, temos outros tantos homens e mulheres que se santificaram na evangelização, na missão, até dar a vida por Cristo e pelos homens. E depois do Concilio Vaticano II a Igreja começou a canonizar pais e mães de família, e não apenas eclesiásticos e consagradas, na convicção que com o dom do Batismo todos somos chamados a ser santos e a viver o nosso estado de vida como caminho de santidade.

Não será este o tempo em que a Igreja para cuidar melhor da casa comum, precisa de santos e santas da ecologia integral? Pode parecer uma parvoíce, mas o Altíssimo Onipotente e Bom Senhor que nos ofereceu este mundo tão belo – como cantava São Francisco – precisa ainda hoje de profetas que abram caminhos para uma cultura da vida, para uma mística do ambiente e para uma globalização da solidariedade, como antídoto à cultura da morte, do descarte e da indiferença.

Meus irmãos, o Papa Francisco mais do que um manual de santidade, na exortação Alegrai-vos e Exultai, mostra-nos que a santidade é possível, que vale a pena ousar querer sermos santos, quer dizer homens e mulheres que se deixam seduzir e conduzir pela palavra de Jesus.

Então poderemos experimentar deveras que

«Ser pobre no coração: isto é santidade.

Reagir com humilde mansidão: isto é santidade.

Saber chorar com os outros: isto é santidade.

Buscar a justiça com fome e sede: isto é santidade.

Olhar e agir com misericórdia: isto é santidade.

Manter o coração limpo de tudo o que nos mancha o amor: isto é santidade.

Semear a paz ao nosso redor: isto é santidade.

Abraçar diariamente o Evangelho mesmo que nos acarrete problemas: isto é santidade».

Sim, devemos acreditar, como dizia, Santa Benedita da Cruz, Edith Stein, mártir no campo de concentração de Birkenau, que «na noite mais escura, surgem os maiores profetas e santos».

(Frei Fabrizio Bordin)